A descrição das formas de ocupação e apropriação do espaço em meio urbano
foi promovida pela chamada Escola de Chicago. Aplicando os princípios teóricos
da ecologia vegetal e animal às comunidades humanas, os seus cultores
procuraram explicar o uso selectivo que os grupos humanos fazem do espaço
urbano. Em similitude com as sociedades humanas, os sociólogos norte-americanos
Park e Burgess usaram pela primeira vez, em 1921, a expressão "ecologia
humana", justamente com o sentido de explicarem os comportamentos dos
grupos humanos de acordo com idênticos comportamentos dos animais e vegetais em
relação ao ambiente em que se inscrevem. Foi Park quem instituiu a teoria da
relação causal entre distância social e distância física: o que está em causa é
fundamentalmente, neste período, a existência de uma sociologia do espaço a
partir da qual as diferenças sociais entre grupos podem ser "medidas"
(1974, Duchac - La sociologie des migrations aux États-Unis. Paris:
Mauton). Segundo esta teoria, os grupos diferenciados ocupam as parcelas do
espaço - numa ordem de importância étnica, social e económica - em processo
conflituoso, de acordo com a capacidade que uns têm para se sobrepor aos
demais, levando tal circunstância ao domínio de uns sobre outros ou, em
alternativa, à assimilação progressiva dos mais fracos pelos mais fortes. É
nesta perspectiva que se emprega a expressão áreas naturais para designar os
espaços homogéneos não planificados cuja ocupação natural e selectiva deriva da
diferença entre os grupos sociais; essa diferença tende a ser minimizada com o
tempo: assim, aqueles que, por efeito das migrações, se situam num espaço
marginal e de segregação, à medida que se vão integrando na comunidade,
tenderão a ocupar espaços mais nobres na cidade. Burgess dá uma explicação dos
espaços selectivos da cidade a partir do que chama círculos concêntricos,
iniciados no espaço disputado por excelência - o Central Business District. À
medida que a distância aumenta em relação a esse centro, o espaço vai perdendo
importância social e económica e, por conseguinte, deixa de ser tão procurado
até se tornar espaço de segregação em meio urbano. Assim, também Wirth (1997,
"O urbanismo como modo de vida". In Cidade, cultura e globalização
(org. Carlos Fortuna). Oeiras: Celta Editora) usa a expressão densidade para
explicar as "selectividades" sociais que se geram em torno de um
espaço. A maior concentração de indivíduos tende a criar diferenciação e
especialização: os que migram para a cidade são acolhidos, na grande maioria,
num espaço segregado - o gueto - que lhes permite uma primeira socialização
(vista até como uma vontade de conterrâneos para permanecerem em conjunto);
pouco a pouco a sua integração e socialização é acompanhada por uma partilha do
espaço, tendencialmente indistinta, com os naturais e aqueles que há mais tempo
aí se encontram radicados. A Escola de Chicago deu largo desenvolvimento à
teoria da integração progressiva (melting-pot, isto por referência aos
estrangeiros na sua relação com os naturais dos países de imigração),
sustentada na ideia de que as populações migrantes se fundem com as populações
autóctones pela acção do tempo.
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