A ecologia estuda as relações que se estabelecem entre os diferentes seres vivos em consequência dos processos de nutrição, reprodução e outras funções biológicas de cada espécie, e as influências que sobre eles exercem as mudanças de temperatura, luz, salinidade e outros factores ambientais. Por outro lado, a ecologia estuda também a influência dos seres vivos sobre o meio ambiente, na medida em que de uma maneira ou outra o alteram e lançam nele os produtos de excreção. A ecologia moderna estuda níveis de organização superior ao próprio indivíduo, como a população.
Um grupo de indivíduos da mesma espécie, que vivem numa determinada zona durante um determinado período de tempo constitui uma população. Todas as populações que habitam uma determinada área geográfica delimitada formam uma comunidade biótica, e esta, conjuntamente com o meio inerte em que se desenvolve, denomina-se sistema ecológico ou ecossistema.
Os estudos ecológicos podem realizar-se tendo como prioridade critérios básicos: espécies isoladas, espécies associadas, etc.
A ecologia tem conhecido um grande desenvolvimento e, sobretudo, uma grande divulgação junto da opinião pública, que se mostra cada vez mais consciente e sensível a questões ambientais como a preservação do equilíbrio dos ecossistemas, a defesa da biodiversidade, a exploração de energias renováveis e o controle dos diversos tipos de poluição.
Perspectiva histórica
A Ecologia é uma ciência relativamente recente, tendo decorrido apenas cerca de 130 anos desde que foi definida como uma área científica concreta, tendo por campo de estudo os ecossistemas naturais, nomeadamente as relações entre os seres vivos que os formam e destes com o meio envolvente, área dentro da qual a acção antropológica sobre o meio ambiente é também um (importante) objecto de estudo.
Sendo uma área interdisciplinar, que agrupa conhecimentos de várias ciências
biológicas, físico-químicas e até matemáticas, a ecologia, devido ao grande
impacto do desenvolvimento humano no meio natural, passou também, nos últimos
anos, a ter em conta dados provenientes de áreas como a economia e a política.
Classicamente definida como uma ciência de análise e de estudo do
meio-ambiente, nos últimos 30 anos, a tomada de consciência dos graves danos
causados ao ambiente pela industrialização massiva, no século XX, pondo em
perigo o futuro da vida, levou a que a ecologia passasse a ser também uma ciência
de intervenção, criando-se o chamado Movimento Ecologista, uma
corrente de pensamento e de intervenção ecológica, que extravasou os
laboratórios, sendo assumida por grande parte da população mundial e levando
mesmo à criação de partidos políticos, que advogam políticas verdes.
De uma forma genérica, a Ecologia pode ser definida como a ciência que tem por
campo de estudo as interacções entre as espécies vivas, quer entre si quer com
o meio em que habitam.
Classicamente, pode ser dividida em dois ramos, que, mais do que duas áreas de
estudo distintas, antes se complementam entre si:
- Auto-ecologia: realiza o estudo completo das acções sofridas ou exercidas por uma só espécie (por exemplo, o estudo do Lince na Serra da Malcata);
- Sinecologia: realiza o estudo das interacções entre espécies múltiplas num mesmo meio (por exemplo, estudo das espécies animais que habitam na Serra da Malcata).
Os objectivos da Ecologia passam pelo estudo do meio ambiente (dos Oceanos às
Montanhas, passando pela Atmosfera) e das problemáticas que o afectam,
nomeadamente a poluição, exploração excessiva de recursos naturais e
desflorestação, assim como a preservação de áreas naturais e espécies
ameaçadas. A Ecologia assume-se como uma ciência de carácter universalista,
dado que os fenómenos ambientais estão interrelacionados, num todo complexo e
nem sempre facilmente perceptível de forma imediata ou a curto prazo.
Embora existam registos que apontem para existência de preocupações ecológicas
já na Antiguidade e Idade Média, os primeiros pioneiros, daquilo que se viria a
constituir como uma ciência denominada Ecologia, surgem apenas no final do Séc.
XVIII/ XIX, sendo de destacar os trabalhos de Charles Darwin The Origin of
Species by Means of Natural Selection (A Origem das Espécies pela
Selecção Natural, 1859) e de Thomas Malthus An Essay on the Principle of
Population as it Affects the Future Improvement of Society (Ensaio sobre
o princípio da população, 1798) , os quais introduzem pela primeira vez, de
uma forma rigorosa, as noções de luta pela vida e de relação entre populações e
alimento disponível. O termo Ecologia seria utilizado pela primeira vez, para
designar esta nova área de estudo, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, em 1866.
Sendo uma ciência interdisciplinar, que combina os dados e metodologias de
diferentes ciências (Zoologia, Botânica, Etologia, Fisiologia, Química,
Estatística, entre outras), facilmente se compreende que esta se desenvolva
completamente com um atraso de cerca de 50 anos relativamente às outras
ciências biológicas, dado que depende de uma síntese das várias descobertas
realizadas em cada um destes campos científicos em que se baseia.
O grande desenvolvimento da Ecologia ocorre somente na segunda metade do século
XX: até 1930, os trabalhos realizados não contemplavam uma concepção global dos
fenómenos ecológicos, limitando-se, na sua maioria, a estudos de fenómenos
locais ou bem localizados, não se preocupando com a importância dos ciclos
biogeoquímicos, nem, por exemplo, com a dinâmica de populações a nível global.
Será sobretudo a partir da década de 60 que a Ecologia conhecerá um enorme
impulso, motivada quer por factores científicos, quer, sobretudo, pela
crescente importância em termos económicos, sociais e políticos que a
preservação do ambiente passa a ter. A partir desta altura, a Ecologia passa a
ser não apenas uma área científica, mas sobretudo um modo de pensar, uma
atitude, e, até mesmo, uma ideologia, que acaba por conduzir à criação de
partidos políticos, denominados Verdes, chegando estes a assumir alguma
importância, sobretudo na Europa Central e do Norte. O surgir desta corrente
ecologista prende-se sobretudo com a tomada de consciência dos danos que a
industrialização, crescente a um ritmo exponencial desde o século XIX, causa no
meio ambiente, pondo em causa o equilíbrio do planeta e, consequentemente, a
própria sobrevivência do Homem, urgindo por isso a tomada de medidas e de
posições por parte de todos, num esforço conjunto de recuperação.
A partir dos movimentos naturalistas do século XIX, de carácter intelectual e
elitista, surge o chamado Movimento Ecologista, uma corrente de
pensamento que tem por objectivo a preservação do ambiente e a atenuação e/ou
eliminação das fontes causadoras de danos ambientais, levando à criação de
numerosas associações, com esse objectivo. Em 1824, surge a Society for the
prevention of cruelty to animals, uma das primeiras organizações não
governamentais (O.N.G.) de protecção do ambiente e que ainda hoje se encontra
em actividade. A Organização das Nações Unidas (ONU) cria em 1948 a UICN (
União Internacional para a conservação da Natureza), tendo como objectivos a
prestação de consulta e informação a Governos e à própria ONU. Aquela que é
actualmente a maior associação ecológica mundial, o WWF (World Wild Fund for
Nature), surge em 1961, desenvolvendo actualmente acções em mais de 70
países, sendo consultado por vários governos, e pela própria ONU e Banco
Mundial. A partir de ex-membros do WWF, formar-se-á na década de 70, o
Greenpeace (Canadá, 1971) e os Friends of Earth (EUA, 1970).
Em Portugal, o movimento ecologista é quase inexistente até 1974, quer devido à
baixa industrialização quer, sobretudo, ao baixo nível educativo e
sócioeconómico da população e à existência de uma forte repressão política. Uma
das poucas excepções é a L.P.N. (Liga de Protecção da Natureza), a mais antiga
O.N.G. portuguesa, fundada em 1948, a qual não é propriamente uma associação de
intervenção ecologista, mas, sobretudo, uma organização de carácter científico,
conservacionista, produzindo inúmeros documentos científicos que serviram de
base para políticas de conservação ambiental posteriores e para a criação de
várias áreas protegidas.
Após a revolução do Vinte e Cinco de Abril, os movimentos ecologistas
proliferam, associados sobretudo a movimentos pacifistas que defendem um
retrocesso da industrialização ou, até mesmo, o retorno a uma economia de
subsistência. Estes movimentos, relativamente desorganizados e com pouca
credibilidade junto da opinião pública, acabam por desaparecer quase
totalmente. A primeira grande campanha de cariz ambiental surge em 1977, com a
luta contra a instalação de uma central nuclear em Ferrel (Peniche), resultando
daqui a primeira grande intervenção ecológica pública em Portugal. A primeira
tentativa de unificar e coordenar o movimento ecologista nacional surge em
1985, com a realização de um Encontro Nacional de Ecologistas, em Tróia. A
partir de 1986, com o aumento da estabilização política, económica e social,
bem como com a entrada de Portugal na CEE, o ambiente passa a ter um peso
político real, com a criação da Secretaria de Estado do Ambiente e Recursos
Naturais. Em 1987 surge finalmente a Lei de Bases do Ambiente, assim como a Lei
das Associações de Defesa do Ambiente.
Na parte final do século XX, a ecologia tornou-se, sem qualquer dúvida, na
ciência que mais colaboradores e interessados tem em todo o mundo, sendo o alvo
das atenções constantes dos mass media e das populações, dado o
conhecimento e a preocupação criada em torno dos perigos reais que ameaçam o
meio ambiente, sendo a Ecologia vista como uma tábua de salvação. A publicação
do relatório Brundhand (Noruega, 1987) veio mostrar que o progresso só é
possível com um desenvolvimento económico sustentado e ecologicamente
controlado, o que definitivamente veio criar uma ruptura com a concepção
clássica de ecologia, transferindo-a para o campo de estudo e preocupações dos
tecnocratas e especialistas de áreas sócio-económicas, como uma área
indispensável a ter em conta no planeamento de um desenvolvimento sustentável.
É a globalizaçãoda Ecologia.
Referências do Documento:
- ecologia. In Diciopédia 2010 [DVD-ROM]. Porto : Porto Editora, 2009. ISBN: 978-972-0-65265-2
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